Descrição
162 p.
Há apenas três décadas, este seria um livro de ficção, talvez de literatura fantástica. O Primeiro Comando da Capital ainda não tinha nascido, a “justiça do crime” era muito menos presente nos cotidianos das periferias de São Paulo. O catolicismo era amplamente dominante, o pentecostalismo apenas iniciava sua trajetória de expansão. Seria então, sobretudo, impensável que trânsitos entre as duas irmandades em franco crescimento (o “Comando”, os pentecostais) se estabelecessem com tamanha desenvoltura.
Tudo mudou, e este é um livro de ciências sociais, dos mais instigantes; suas histórias são fantásticas, mas ele fala de um mundo realmente existente, tendencialmente crescente, embora tão pouco visível às elites paulistanas.
Vagner Marques nos leva a conhecer Kadu, o irmão (do PCC) que virou irmão (de uma igreja pentecostal), mantendo sua dupla filiação. Rara sensibilidade na detecção dos signos presentes que apontam para tendências de futuro da cidade ainda, no mínimo, incompreendidas.
A pesquisa de campo é muito consistente, solidamente orientada, intensamente conduzida. O autor nos leva a compreender como a ética de uma e outra irmandades permitem a construção de uma forma de vida urbana comum, entre ambas, ainda absolutamente inexplorada. Kadu não é uma pessoa, mas uma multidão nascente.
O livro de Vagner Marques é de leitura obrigatória a todos que se interessam pela cidade de São Paulo, pelas suas religiões, seus conflitos violentos, cotidianos e modos de vida. Mas também a todos aqueles que, como o autor, sabem que o novo sempre vem.
Gabriel de Santis Feltran, outubro de 2015
Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR
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