Descrição
Esse livro é parte de minha tese de doutoramento, a parte que talvez me permita me safar de uma acusação: fui acusado de exagerado. Bem, é verdade, confesso. Escrever uma tese depois de 50 anos de vida traz uma tentação perspicaz de incluir tudo o que se viu, tudo o que se leu, numa profusão sem fim de citações e memórias. Mas, não me envergonho, foi de propósito, foi por querer.
Jorge Luiz Borges tinha caído na mesma tentação, mas foi econômico, preferiu impor esse exagero aos seus personagens. Não foi por acaso que Carlos Argentino, personagem do conto O Aleph, estava escrevendo um poema que “se propunha e versificar toda a esfera do planeta” e que cada verso deveria suscitar um período ou obra literária. Aliás, foi nesse conto que o personagem Borges disse ter visto o Aleph, “o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do planeta, vistos de todos os ângulos”. Ou podemos escolher outro conto: Exame da obra de Herbert Quain. O conto é uma espécie de obituário literário de Herbert Quain, contendo um perfil do autor e a crítica dos seus livros. Borges elenca as principais obras de Quain e revela, como no conto Pierre Menard, autor do Quixote, que o trabalho literário tende a se submeter a uma ordem e a uma multiplicação obstinada e infinita. Se quisermos ainda temos o curioso conto de Funes o memorioso. Funes podia reconstruir os detalhes de tudo o que aconteceu de um dia inteiro e dizia que as recordações que tinha sozinho são mais do que a de todos os homens desde que o mundo é mundo. Funes tinha um projeto para criar um sistema original para enumerar todas as suas memórias, mas, decidiu ficar nas setenta mil lembranças, ou jamais terminaria sua contagem.
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